domingo, 4 de maio de 2008

A educação precisa de mais que política !



"A educação não pode ser neutra!"

Pesquisas no Brasil e no exterior mostram que o desempenho educacional tem forte relação com a família e a comunidade. Quando pais acompanham o estudo dos filhos, melhoram as chances de aprendizado. Se a sociedade local participa da gestão das escolas, diretores e professores serão mais cobrados e ganharão parceiros para melhorar o processo pedagógico. Para ativar os atores de fora da sala de aula, a política de educação precisa da ajuda de outros setores governamentais e agir segundo as peculiaridades regionais.
O caso brasileiro revela os limites de secretários e do ministro da Educação. Sondagens do Ibope mostram que os pais mais satisfeitos com a qualidade educacional são os mais pobres e menos instruídos. Esse mesmo grupo também tem dado menor importância à educação na avaliação dos problemas brasileiros. As famílias que mais precisariam acompanhar o estudo dos filhos são as que têm menor interesse em fazê-lo.
É compreensível a posição das famílias mais pobres e menos instruídas. As crianças do "andar de baixo" têm hoje maior escolaridade que seus pais tiveram, graças à ampliação do acesso. Além disso, pôr os filhos na escola garante uma renda familiar adicional por meio de programas de transferência de renda. Só que o desempenho dos alunos das escolas públicas é, no geral, sofrível, deixando-os a uma boa distância dos que freqüentam o ensino privado.
As melhorias ocorridas na educação dos mais pobres paradoxalmente criaram obstáculos para a transformação mais profunda de sua vida. Para convencer os pais das classes mais baixas a ter uma posição mais ativa a favor da qualidade das escolas, a política educacional será importante, mas insuficiente. Basta lembrar que não são os professores, nem o diretor, os funcionários públicos que têm maior capilaridade nas periferias ou nos núcleos paupérrimos do interior. São os servidores da Saúde e da Assistência Social.
O Bolsa-Família gerou uma revolução que poucos notaram: o Estado chegou a quem não era servido pelo poder público. Essa capilaridade deveria servir não só para manter os alunos na escola e dar uma necessária renda aos pais, mas teria de ser um instrumento ativador do sentimento de comunidade em prol do aperfeiçoamento das escolas.
Nas regiões metropolitanas, em especial as do Sudeste, o impacto do Bolsa-Família é menor. A revolução educacional nas periferias urbanas pode estar em duas outras formas de intersetorialidade: aliar a política educacional a ações das áreas de cultura e/ou juventude e levar os ensinos técnicos, voltados ao mundo do trabalho, mais cedo para as escolas.
No primeiro exemplo, está em jogo a capacidade de aproximar o mundo escolar da realidade jovem, algo que livros, bons professores e diretores bem treinados não farão sozinhos. Quanto à introdução de conteúdo profissionalizante, ela poderia dar mais sentido à educação a alunos e pais que não enxergam a relevância de uma enxurrada de matérias sem ligação imediata com a vida em sua comunidade e, principalmente, com o mundo do trabalho.
Secretários e o ministro da Educação devem defender essa intersetorialidade adaptada às realidades regionais para que a política educacional mobilize as comunidades mais pobres. Mas não conseguirão levar adiante sozinhos essa idéia. Precisarão que prefeitos, governadores e, principalmente, o presidente comandem a batalha, colocando a educação no topo das prioridades do país.
Fernando Abrucio - Doutor em Ciência Política pela USP, professor da Fundação Getúlio Vargas

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