sábado, 12 de fevereiro de 2011

Uma breve análise das contribuições da psicanálise freudiana à educação!!!!


A inteligência é o único meio que possuímos para dominar os nossos instintos.
Sigmund Freud

Segundo Kupfer (2004), contam-se entre as 3.667 páginas que compõem as Obras Completas de Freud, menos de 200 dedicadas à reflexões, análise e críticas sobre a Educação. Mas esta aparente dispersão, longe de indicar um descaso de Freud em relação à Educação, mostra, ao contrário, que a Educação é um tema que o acompanhou por toda extensão de sua obra e jamais deixou de ser motivo de reflexão contínua.
As idéias de Freud sobre a Educação encontram-se em seus textos que tratam em primeiro plano de outras questões, já que as idéias educacionais de Freud emergem em momentos precisos da articulação da teoria psicanalítica que o autor estava, aos poucos, construindo.
Muitos autores, inspirados na psicanálise freudiana, também teceram suas aproximações entre psicanálise e educação. Em seu artigo Aprendizagem significativa, Francisco (2002) propõe uma reflexão sobre questões ligadas ao ensino e aprendizagem no mundo da sala de aula, lugar onde a razão e a emoção interagem, onde sujeitos se constroem, cidadãos e profissionais assumem seus papeis ativos. A convivência entre indivíduos nesse “espaço da intersubjetividade produtora de subjetividade” é de importância.
De acordo com Millot (1987), antes de realizar descobertas sobre o tema da sexualidade infantil, Freud salientava a necessidade de se promover, uma reforma na educação, “responsável direta pelas neuroses” devido à influência da moral, repressora da sexualidade, promotora da castidade entre os adolescentes e da apologia da família nos padrões da sociedade burguesa, na gênese das neuroses. Freud dirigiu duras críticas à educação em Moral sexual “civilizada” e doença nervosa moderna, onde salienta a estreita relação entre as tendências perversas manifestas na sexualidade do adulto e a proibição, por parte da educação, da prática sexual genital na adolescência.
A descoberta da sexualidade infantil, paralela à constatação da importância dos primeiros anos de vida no desenvolvimento do indivíduo e na origem das neuroses, levou Freud a priorizar questões ligadas à educação. A Psicanálise, fundamentada na investigação analítica, viu-se pronta para apontar ao educador, os princípios e possibilidades do seu poder além dos seus erros. Segundo o autor, a expectativa freudiana em relação à educação era “saber o que se está fazendo quando se educa, já que não se faz o que se quer” (1987:39).
A caracterização feita por Freud da instauração da sexualidade humana em dois tempos remonta a 1905. As concepções de pulsões parciais (anarquia pulsional na criança) e de período de latência compõem o eixo da reflexão de Freud sobre a educação até por volta de 1915.
Dos cinco aos seis anos até à puberdade, no período de latência, apareceriam os sentimentos de repugnância, vergonha, pudor e piedade, pilastras futuras da moralidade. A atividade sexual sofreria um freio, uma interrupção, mas Freud parece atribuir à educação, nessa fase, um papel de coadjuvante. A detenção da atividade sexual e as formações morais estando atreladas ao condicionamento pelo organismo e à fixação pela hereditariedade, se manifestariam independentemente da educação. Uma vez latentes, as pulsões sexuais não desapareceriam, mas sofreriam transformações e culminariam com sua organização sob a primazia da genitalidade
Assim, da visão psicanalítica decorrem as seguintes posições: ao professor, guiado por seu desejo de ensinar, cabe o esforço de organizar, articular, tornar lógico seu campo de conhecimento e transmiti-lo a seus alunos. Cabe também a tarefa de compreender a subjetividade presente em cada criança, sabendo aproveitar potenciais, muitas vezes a serem descobertos, para daí fazer emergir o desejo de aprender.
Ao aluno cabe a tarefa de ingerir, desarticular e digerir aqueles elementos transmitidos pelo professor, que se engancham em seu desejo, que fazem sentido para ele e que encontram eco na sua subjetividade de sujeito aprendente.


[...] O analista não pode ser simultaneamente educador e vice-versa. Mas ambas as funções podem ser exercidas simultaneamente, por pessoas diferentes. Assim, para Klein está fora de questão uma educação analítica. Ela é favorável a uma “educação assistida pela psicanálise”, em que os psicanalistas não teriam um papel de educadores, nem proporiam um modelo pedagógico novo: eles se lançariam, como diz Millot, “mais que a uma reforma dos princípios, a recomendações de bom senso” (1987:141). Há muito os bons pedagogos vinham fazendo o que se esperava deles. [...]

[...] A primeira seria uma inibição neurótica do pensamento, a segunda desembocaria na erotização das operações intelectuais – de caráter obsessivo, fadado ao mesmo destino do primeiro fracasso e à não conclusão, e a terceira mais rara, levaria à sublimação de uma parte do desejo e da pulsão em curiosidade sexual. Mas como solucionar esse dilema insolucionável, pergunta-se Francisco (2002)? Para Freud seria preciso buscar o ponto ótimo dessa educação, beneficiária ao máximo e danosa ao mínimo. Ela não deve se ausentar da tarefa de adaptar a criança à ordem estabelecida. [...]

[...] Haveria, portanto, uma proximidade de funções entre educação e psicanálise. Isto colocaria a psicanálise em continuidade com a educação num outro sentido, na medida em que, tratando das falhas deixadas na psique do indivíduo pelos processos educativos, aquela poderia ser vista como uma “pós-educação”. Como diz Millot (1987), “Tanto a educação quanto a psicanálise atingiram o objetivo de sua ação caso tenham assegurado aos componentes pulsionais uma abertura a uma organização libidinal satisfatória” (1987:53). Tal leitura, entretanto, não pode ocultar que, até o final de sua carreira, Freud manteve-se crítico em relação às práticas educativas e pensou a psicanálise como em tensão com a educação.

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