terça-feira, 7 de abril de 2009

Victor, " O Menino Selvagem de Aveyron"


Os homens fazem a sua própria história, mas não o fazem como querem... a tradição de todas as gerações mortas oprime como um pesadelo o cérebro dos vivos.


O "menino selvagem" Victor de Aveyron é um dos casos mais conhecidos de seres
humanos criados livres em ambiente selvagem. Provavelmente abandonado numa floresta
aos 4 ou 5 anos, foi objeto de curiosidade e provocou discussões acaloradas
principalmente na França, onde o caso ocorreu.
Sua história oficial começa em 1797, quando um menino inteiramente nu, que fugia do
contato com as pessoas, foi visto pela primeira vez na floresta de Lacaune. Em 9 de
janeiro de 1800 foi registrado seu aparecimento num moinho em Saint-Sernein, distrito de
Aveyron. Tinha a cabeça, os braços e os pés nus; farrapos de uma velha camisa cobriam o
resto do corpo. Era um menino de cerca de 12 anos de idade, media 1,36 m, tinha a pele
branca e fina, rosto redondo, olhos negros e fundos, cabelos castanhos e nariz comprido e
aquilino. Sua fisionomia foi descrita como graciosa; sorria involuntariamente e seu corpo
apresentava a particularidade de estar coberto de cicatrizes.
Victor não pronunciava nenhuma palavra e parecia não entender nada do que falavam com
ele. Apesar do rigoroso inverno europeu, rejeitava roupas e também o uso de cama,
dormindo no chão sem colchão. Quando procurava fugir, locomovia-se apoiado nas mãos
e nos pés, correndo como os animais quadrúpedes.

Estudo sociológico do caso:
Alguns médicos, como os franceses Esquirol (1772-1840) e Pinel (1745-1826),
diagnosticaram o menino selvagem como idiota (nomenclatura que hoje corresponde à
deficiência mental grave). Talvez por essa razão tenha sido abandonado pelos pais.
O médico psiquiatra Jean-Marie Gaspard hard, diretor de um instituto de surdos-mudos,
não compartilhava da opinião dos colegas. Propôs uma questão:
  • Quais as conseqüências da privação do convívio social e da ausência absoluta da educação social humana para a inteligência de um adolescente que viveu assim, separado de indivíduos de sua espécie?
    Ele acreditava que a situação concreta de abandono e afastamento da civilização explicava
    o comportamento diferente do menino Victor, contrapondo-se ao diagnóstico de
    deficiência mental para o caso.
    Em seu livro A educação de um homem selvagem, publicado em 1801, Itard apresenta seu
    trabalho com o menino selvagem de Aveyron, descrevendo as etapas de sua educação:

  • ele já é capaz de sentar-se convenientemente à mesa,

  • tirar a água necessária para beber

  • levar ao seu benfeitor as coisas de que necessita

  • diverte-se ao empurrar um pequeno carrinho e
    começa também a ler. Cinco anos mais tarde já fabricava pequenos objetos e podava as
    plantas da casa. A partir desses resultados Itard reforçou sua tese de que os hábitos
    selvagens e a aparente deficiência mental iniciais eram apenas e tão-somente resultados de
    uma vida afastada de seus semelhantes e da civilização.
    Acompanhando de perto e trabalhando vários anos com Victor para educa-lo, Itard
    formula a hipótese de que a maior parte das deficiências intelectuais e sociais não é inata,
    mas tem sua origem na ausência da socialização, na falta de comunicação com os
    semelhantes principalmente pela palavra. Aproximando-se da visão sociológica dos fatos
    sociais, o pesquisador concluiu que o isolamento social prejudica a sociabilidade do
    indivíduo. E a sociabilidade é a base da vida em sociedade.
    Os estudos de Itard reforçam um dos fundamentos da Sociologia: os fatos sociais, embora
    exteriores, são introjetados pelo indivíduo e exercem sobre ele um poder coercitivo, já que
    determinam seu comportamento.

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